11 de jun. de 2008

Ovos Nelas

O que é uma socialite? Segundo Sérgio Ximenes, não passa de uma pessoa rica que cultiva um estilo de vida luxuoso, freqüentando festas e lugares luxuosos. Creio que meu dicionário esteja incompleto, pois não encontro nele, a função social deste tipo de pessoa. Em que contribui para o desenvolviento do planeta, estas pessoas que são caracterizadas apenas pela presença em ambientes e eventos de alto glamour? Sim, porque um agricultor cultiva a terra e produz frutos. Um médico cuida e salva vidas. Um bombeiro apaga incêndios e uma socialite freqüenta festas.

Nada pessoal, só acho incrível que estas pessoas consigam acordar todos os dias e ainda terem disposição para fazer o que sempre fazem, e que provavelmente fizeram no dia anterior. Mas a simples existência de tais pessoas não é fato relevante. Se não querem ajudar a fazer algo pelo mundo em que vivemos, que pelo menos não atrapalhem. E é aqui onde quero chegar.

Na grande rede está sendo difundido um vídeo, onde uma famosa socialite carioca, juntamente com alguns amigos, todos da mesma classe trabalhista (freqüentadores de festas luxuosas), mostram sua mais nova forma de se divertir. Talvez pelo tédio provocado pela desumana jornada de eventos de luxo a que são submetidos, este grupo de amigos resolveu passar o tempo jogando ovos podres em pessoas que passam próximo de suas residências. E não pense que tais acontecimentos se passam em vielas sujas e mal iluminadas das favelas do Rio, muito pelo contrário, o ataque dos ovos ocorre principalmente nos bairros mais luxuosos da cidade, nos metros quadrados mais caros da capital. Não satisfeitos em demonstrar a sua perícia na modalidade de arremesso de ovos, ainda demonstram passo a passo o processo de preparação, apresentando todas as etapas até o apodrecimento.

Lastimável. Pergunto-me de que serviram as dezenas de anos destinados à freqüentar os mais caros colégios do nosso país, se agora colocam-se no mesmo patamar de civilidade de algumas espécies menos evoluídas de primatas. Anos perdidos, creio eu. Talvez o excesso de laquê, maquiagem e drogas tenham produzido um efeito devastador na humanidade inerente a todo ser humano.

Não vou negar que em alguns casos ja tive o desejo de arremessar ovos podres em algumas pessoas. Talvez um assassino, um estuprador ou um político corrupto, mas creio que os crimes de tais personagens justifiquem minha atitude ofensiva. E neste ponto faço uma comparação com a situação vislumbrada no texto “Os Invisíveis”, postado anteriormente, onde uma pedinte foi presa por empurrar uma idosa, após esta ultima ter se negado a dar esmola. A pedinte foi presa, com certeza vai ser indiciada e condenada. E se eu conheço a justiça brasileira, irá pegar a pena máxima possivel para tal delito. E a socialite? Será se vai passar pelo menos um dia na prisão? Na minha opinião, a agressão moral causada ao jogar os ovos nas pessoas é de relevância muito maior do que a da agressão da pedinte à idosa. Pelo menos a pedinte tinha um motivo, ainda que não justificador da sua atitude, enquanto a socialite pratica tais atos por pura diversão.

Creio que o problema está na educação. Não na forma que é oferecida, mas sim na forma que é absorvida e utilizada pelos destinatários. Alguns usam o que sabem para o bem, outros passam o tempo jogando ovos pela varanda. Talvez tranquilizados pela certeza da impunidade, são sujeitos de atitudes tão deploráveis e degradantes. Não que o dinheiro que têm, ou a educação que receberam os tornem melhores do que qualquer outra pessoa, mas estas oportunidades lhes deram possibilidade de discernir melhor o certo do errado. Cada um usa da forma que bem entende essa capacidade de discernimento. Eu, por minha vez, continuo a achar mais interessante ovos na frigideira, do que na cabeça das pessoas.

Igor Janiel Souza Brito
11/06/2008

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