4 de jun. de 2008

O protecionismo econômico dos países desenvolvidos e a fome mundial

A proteção econômica através de barreiras alfandegárias e subsídios estatais é fato comum na cena econômica dos países de primeiro mundo. Para proteger os produtores locais da concorrência de produtos oriundos de outros países, grandes potências mundiais gastam bilhões de dólares por ano com subsídios agrícolas. Porém, uma grave crise de alimentos vem se desenvolvendo nos últimos tempos, provocando a alta no preço dos alimentos e a escassez de alguns produtos no mercado mundial.

A alta excessiva no preço de alguns produtos básicos, como grãos e cereais, nos últimos dias provocou uma grave crise no cenário mundial, abrindo espaço para discussões a respeito do tema. Alguns pesquisadores chegaram a divulgar na imprensa, que se nada for feito para mudar o cenário de crise que já se instalara, o planeta terá que produzir 50% mais alimentos do que produz hoje, até 2030. Mas como produzir tanto, sem prejudicar o ecossistema e outros setores da economia? O problema é exatamente este, apesar do grande avanço da tecnologia na área agrícola nas últimas décadas, possibilitando níveis cada vez mais altos de produtividade, ainda estamos longe de obter tais níveis de produção. Portanto, já que não podemos produzir os 50% necessários para alimentar a população em 2030, faz-se necessário a busca de novas alternativas.

Na outra ponta do raciocínio, está o discurso daqueles que criticam o fato de que várias faixas de terra que poderiam estar sendo usados para a produção de alimentos, estarem sendo usados para a produção de matéria prima para os Biocombustíveis. Não deixa de ser sensata a afirmação de que esta prática acaba por diminuir a área disponível para a produção de alimentos, o que acarreta sérios empecilhos para o fim da crise dos alimentos. Caso haja uma diminuição na produção de alimentos necessários, decerto o preço dos alimentos irá subir a níveis inimagináveis, provocando fome e miséria nas partes mais pobres do planeta.

Críticas direcionadas aos países que exploram a produção de Biodiesel em larga escala acabaram atingindo também o Brasil। O país passa por um momento bastante expressivo na produção de cana de açúcar, onde a área de cultivo da cultura cresceu vertiginosamente, alcançando recordes de produção nunca antes visto. No entanto, o Brasil combate as críticas, argumentando que a produção de alimentos não está sendo prejudicada, pois o cultivo de cana de açúcar não tomou o espaço de grãos e cereais na produção agrícola. Paralelamente, pesquisas muito avançadas de pesquisadores da Embrapa, prometem diminuir os custos de produção de grãos, ao mesmo tempo que aumenta-se a produtividade, através de sementes cada vez mais fortes e resistentes. Em situação mais complicada encontra-se os Estados Unidos, pois lá, o produto mais utilizado para a produção do Etanol é o milho, produto que tem pouca produtividade, se comparado à cana de açúcar. Além disso, o milho é alimento muito usado na alimentação de animais, e já sofre aumentos expressivos nos últimos meses, o que por conseqüência ocasiona também o aumento no preço da carne e derivados.

O Brasil, a partir da divulgação dos relatórios preliminares que demonstram o potencial destrutivo da crise, tomou posse de uma postura protecionista, visando a manutenção do desenvolvimento dos projetos na área dos biocombustíveis। Não tardou em contra tacar as críticas feitas sobre a produção de Etanol através da cana de açúcar. Em discurso feito no encontro da FAO em Roma, o presidente Lula demonstrou estar disposto a comprar a briga com os países desenvolvidos da Europa e principalmente os EUA. Criticou não a produção de biocombustíveis nesses países, mas sim o uso abusivo de práticas protecionistas contra produtos oriundos de outros países. E mandou o recado, não deixará de apoiar o desenvolvimento de combustíveis renováveis. Segundo o presidente Lula, as barreiras alfandegárias e os subsídios agrícolas oferecidos pelos governos destes países têm causado, antes de qualquer outra coisa, a elevação do preço dos alimentos no mundo. E qualquer idéia contrária a isso tem o simples intuito de desvirtuar a questão, transferindo o foco para os países subdesenvolvidos.

No contexto da crise, o governo japonês mandou disponibilizar milhares de toneladas de arroz que estavam em estoque. Com medo do aumento excessivo do arroz, o governo providencia defesas para evitar a crise. O aumento do preço do arroz na economia japonesa seria pertinentemente prejudicial, pois a dieta japonesa é baseada principalmente no cereal. Especialistas afirmam que se a crise dos alimentos realmente tomar proporções maiores, o Brasil teria boas defesas, pois tem uma política eficiente de distribuição comercial e emergencial, gerenciada por empresas estatais imunes à especulações financeiras. Além disso, o Brasil produz cerca de 30% mais do que consome, assegurando uma autonomia interna maior, além de ótimo potencial exportador.

Para o governo brasileiro, uma maior liberdade de comércio entre os países é condição indispensável para o fim da crise. Com uma maior competitividade no mercado mundial, o preço dos alimentos tenderá a cair gradualmente, e voltará aos níveis usuais ou, para os mais otimistas, poderá chegar a níveis baixos nunca antes vistos. Pretende-se então permitir que os produtos estrangeiros possam ser vendidos em mesmas condições que os produtos nacionais, deixando a escolha para quem realmente interessa, os consumidores finais.

Nesta briga de gigantes, que são os Estados, nós consumidores ficamos em posição desfavorável, visto que a decisão das entidades governamentais ditará as condições do nosso futuro. A disputa entre produção de energia e produção de alimentos já provocou amplas discussões em âmbito nacional, e há quem profetize a ocorrência de sérios problemas nos próximos anos. Enquanto esperamos os próximos capítulos dessa trama, dê sua opinião acerca do tema. O que você entende a respeito disso? O que deverá ser feito para evitar uma crise mundial de proporções apocalípticas?

Igor Janiel Souza Brito
Certostermos.blogspot.com
03/06/2008

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