11 de jun. de 2008

Cultura Made in USA

1. Desenvolvimento Intelectual. 2. Antrop. Conjunto de experiências e realizações humanas (costumes, crenças, instituições, produções artísticas e intelectuais) que caracterizam uma sociedade. 3. Conjunto de conhecimentos adquiridos numa determinada área de atividade. 4. Conjunto de atitudes e comportamentos que caracterizam certa mentalidade.

O que se encontra no dicionário, após breve pesquisa, são estas definições para a palavra cultura. Das definições, a que mais se encaixa no sentido da discussão é a que conceitua a cultura como o conjunto de experiências e realizações humanas que caracterizam uma sociedade. O problema encontra-se bem aí.

O fato é que a maior parte das produções culturais que nos são oferecidas hoje em nosso país, são importadas. Como exemplo, a produção cinematográfica nacional, de muita qualidade, diga-se de passagem, acaba perdendo espaço para a produção em larga escala dos Estados Unidos. Mesmo com o indiscutível reconhecimento das nossas produções lá fora, em nossos quintais ainda não conseguimos lograr de tamanho êxito.

Tomo o cinema como exemplo, por ser esta, ainda, a mídia que chega à maior parte da população, não pela facilidade de se adentrar uma sala de cinema, mas por estar disponível, mesmo que em uma infima porção, na televisão aberta. Num país em que os livros custam os olhos da cara e uma boa peça de teatro ainda é uma opção para poucos, a TV aberta se apresenta como única expectativa de acesso à cultura para a maior parte da população.

Infelizmente esta TV não oferece o espaço ideal para as produções nacionais. É de extrema necessidade então, que se faça modificações na legislação, para que as produções de artistas nacionais ganhem a devida relevância no contexto da TV brasileira. No entanto, o que os nossos parlamentares fazem é o extremo oposto. Com a aprovação da LP-29 no Congresso Nacional, as emissoras de TV brasileiras ganharão total liberdade para se prostituir aos interesses internacionais, visto que não haverá mais limite para a participação de capital estrangeiro nestas instituições

De fato, os nossos parlamentares andaram para trás na caminhada em busca de uma maior autonomia e espaço para a cultura nacional. As produções dos nossos artistas terão mais uma barreira para ultrapassar dentro dos nossos territórios. Em um momento tão consagrador para a nossa produção artística, vista as premiações em Cannes e as indicações para o Oscar, tais modificações se apresentam como um soco no estômago e na esperança de sucesso dos mais otimistas. Chega a ser irônico que nossos filmes, músicos e artistas plásticos tenham que fazer sucesso lá fora, antes de ter o devido reconhecimento e aceitação dentro do seu próprio país. Um paradoxo que apresenta um simples reflexo da insegurança do povo brasileiro, que ja acostumado a receber e aceitar o “prato-feito” vindo de fora, não se interessa pelo filé mignon servido em sua própria cozinha.

A preocupação com os interesses nacionais não deve ser desencorajada. É a manutenção da nossa cultura, e a defesa da nossa identidade que está em jogo. Há muito tempo se discute o tema, desde os versos de Renato Russo em “Geração Coca-cola” aos discursos mais politizados de sociólogos e educadores nas últimas décadas. Não é aceitável então que em pleno século XI retrocedamos de forma tão irresponsável. O Brasil, com este tipo de atitude, toma postura totalmente contrária àquela defendida pelo mundo todo. Conseguimos perceber claramente no contexto internacional, que há uma busca incessante pela proteção e incentivo à produção interna. No entanto, o Brasil abre suas porteiras para que investidores internacionais definam o cardápio do que será distribuído dentro de nosso país, nos deixando à mercê do que for de seu interesse. Nessa situação, entregaram a coleira para que possam nos levar para passear. “Ah vida real, como é que eu troco de canal”?

Igor Janiel Souza Brito
11/06/2008

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